Foi num dia frio e chuvoso do mês de julho de
2012, que tive o prazer de conhecer um pouco da história do Seu Juca, como é
conhecido o Sr. José Pereira de Camargo. Famoso no bairro, onde até o destino
do ônibus circular indica o ponto final: até o Juca.
Homem simples, lúcido e
inteligente, nascido em 25 de fevereiro de 1.926. Viúvo, pai de 9 filhos, dos
quais 5 são falecidos.
Fui conversar com ele, por saber
ser um morador bem antigo do bairro dos Pintos. Queria resgatar algumas
memórias deste local, onde está inserida a escola estadual Maria Ignês. E quem
melhor que uma pessoa como o seu Juca, para nos contar e encantar com sua
história?
Começou contando que muito
antigamente o Bairro dos Pintos como é conhecido hoje, tinha o nome de Bairro
da Liberdade, fato que me surpreendeu, pois moro em Piedade desde que nasci, e
nunca tive conhecimento deste fato. Hoje o Bairro da Liberdade, é bem menor e a
colônia japonesa de Piedade está localizada.
Em 1.939, onde localiza-se a Marcenaria Canarini, havia uma imensa
plantação de marmelo, é um fruto que não é normalmente consumido
cru, mas cozido, geralmente fazendo-se marmelada. Também se consome assado. As sementes
podem ser utilizadas como antidiarreico. . Do
marmeleiro também se extrai a vara de marmelo, instrumento de punição bastante
usado no passado, e ainda em uso em algumas localidades. Inclusive, seu Juca,
me mostrou uma, que mantem guardada, provavelmente, para mostrar aos netos,
como as crianças eram educadas nos tempos idos.
Pois bem, esta plantação era de propriedade
de Antonio Ortiz de Moraes, que ao falecer, seus herdeiros, dividiram as terras e lotearam a grande área.
O primeiro lote foi vendido para Marcilio Antonio de Góes, e os compradores
seguintes, deram o nome de Vila Moraes em homenagem ao primeiro dono destas
terras, isto já no ano de 1961.
E
outros lotes foram comprados por Abrão Pinto, Jovina
Pinto, Marica Pinto e João Pinto, e um novo nome foi criado para demarcar o Bairro dos Pintos.
Em 1951 o seu Juca foi nomeado inspetor de
bairro pela prefeitura de Piedade, antigo cargo, sem remuneração, onde a pessoa
escolhida, era alguém de prestígio e respeitada pela comunidade. Esta pessoa
era chamada para resolver pequenos conflitos entre vizinhos, brigas entre
marido e mulher. Em 1952 passou a ser inspetor da delegacia. Em 1985 seu Juca,
passou a ser nomeado inspetor pela delegacia de Sorocaba. Este cargo era
exercido apenas por idealismo, pois como
nos disse o seu Juca, nunca ganhou um centavo, nem uma camisa, e muitas vezes
ganhava inimigos.
Em 1962 seu Juca inaugura sua venda de secos
e molhados, inclusive medicamentos. Funcionou por 26 anos fornecendo
mercadorias para o bairro todo. Vendeu seu armazém, e aplicou suas economias em
poupança, mas em março de 1990, um dia após a posse de Fernando Collor, novas
medidas econômicas foram anunciadas para conter a hiperinflação de 81%, e entre
estas medidas foi o congelamento de 80% de todas as contas correntes ou
cadernetas de poupança, que excedessem a NCz$ 50 mil (cruzado novo), por 18
meses. E isto afetou a vida do Seu Juca de maneira extrema, de um dia para
outro, se viu sem as economias de uma vida inteira de trabalho duro.
E continuei batendo um papo muito gostoso com
seu Juca, que me contou fatos intrigantes de seu nascimento. Mas isto é assunto
para outra edição, já que nossa intenção
é mostrar a importância de preservar a memória da comunidade, está no fato de
ser uma das formas de constuir e valorizar a história de lugares e pessoas.
Sônia Bianchini Góes Paslar
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